sábado, 26 de maio de 2007

A importância dos telemóveis




Há quem diga que já não há valores ou princípios morais... Pior do que isso: há, mas andam todos trocadilhados ou invertidos. Vejamos, então:

Ontem, uma colega minha, pessoa calma e tolerante, apreendeu um telemóvel a uma aluna. Por diversas e pacientes vezes, foi a dita menina avisada e repreendida, mas insistia a mesma em jogar e enviar sms's, ao invés de prestar atenção às actividades da aula. (Ponto 1: ninguém poderá dizer que a professora foi cruel e impiedosa, pois a aluna foi avisada; ponto 2: o Regulamento Interno da escola proibe o uso de telemóveis dentro de uma sala de aula, logo a professora limitou-se a cumprir uma regra).

Este acontecimento ocorreu na primeira aula de 90 minutos da manhã, portanto entre as 8h30 e as 10h00.Entre as 10h00 e a 10h15, altura em que professores e alunos usufruem de um pequeno intervalo, a nossa colega comentou, em jeito de desabafo, o episódio do telemóvel, informando que iria entregá-lo ao Presidente do Conselho Executivo (o que faz igualmente segundo as regras estipuladas).

Ora, nesse preciso instante, eis que chega junto da nossa colega uma funcionária, avisando-a de que a mãe da aluna se encontrava na escola para falar pessoalmente com ela e exigir o aparelho da filha. Note-se que a mãe apareceu no primeiro intervalo da manhã, imediatamente após a aula em que tudo isto aconteceu...

Digno de destaque é o facto de esta encarregada de educação nunca ter comparecido a reuniões com a Directora de Turma, nem mesmo quando a filha foi suspensa por dois dias....

Afinal, há ou não há valores na nossa sociedade? Não merecerá um pobre telemóvel defesa, carinho e protecção nas horas de maior angústia? Não foi o que esta mãe fez? Largou tudo e todos para vir salvar o precioso equipamento das garras de uma professora qualquer, ser abjecto e preguiçoso, erva daninha da sociedade indefesa, quiçá cheia de pulgas e lêndeas!!!! E reparem que se trata de uma mãe sem tempo para vir à escola, pois nunca revelou o mínimo imteresse pelo percurso académico da filha ou pelos seus deslizes disciplinares...

Há valores morais , sim senhor - só não se percebe quais são...

domingo, 20 de maio de 2007

Medo do escuro













(somostodosum.ig.com.br/.../c13r228m2513.jpg)


Ofereço esta canção à minha querida pequenina, para que não se sinta tão só no escuridão dos seus medos:


"Nem sombra nem luz
nem sopro de estrela
nem corpinhos nus
de anjos à janela
nem asas de pombos
nem algas no fundo
nem olhos redondos
espantados do mundo
nem vozes na ilha
nem chuva lá fora
dorme minha filha
que eu não vou embora"

(Canção para a minha filha Isabel adormecer quando tiver medo do escuro, de A. Lobo Antunes, cantada por Vitorino)


quarta-feira, 16 de maio de 2007

O veneno verde e ácido da inveja



"Inveja" (detalhe da "Mesa dos pecados capitais" - H. Bosch)


É sempre engraçado e ternurento ouvir algumas pessoas a afirmarem: "não gosto nada de pessoas invejosas", "nunca fui invejoso/a", "detesto a inveja"...

É giro, porque a inveja faz parte da raça humana, como o au-au faz parte dos cães ou o miau dos gatos... Não há volta a dar! Todos nós já sentimos inveja, uma vez que seja na vida! Quem nunca invejou quem tem mais dinheiro e bens materiais do que nós, mais talento, mais fama, mais sorte?... Ou outra coisa qualquer.

A inveja que sentimos, se não for aceite como coisa nossa, destrói o fígado, corrói a vesícula, deixa um sabor a ressentimento na boca. Mas, se a acolhermos e a soubermos aceitar, empurra-nos e faz-nos evoluir, seja para lutar e atingir o que o outro tem, seja para nos ensinar a aceitar o que nunca poderemos ter.

A minha mãe costumava ir a um sapateiro, o Sr. Manuel. Sobre a bancada de trabalho, havia um dístico, num azulejo colorido e já partido, que sempre me deliciou: "Se tens inveja de mim,/Faz como eu: trabalha!". Que é como quem diz, esforça-te; organiza a tua vida de outra maneira; gere o teu tempo; não fiques a babar-te na cama e mexe-te; não te lamentes e anda para a frente; procura a tua sorte!...

Como eu não sou perfeita - e grande amiga do Frei Tomás -, nem sempre ponho em prática as minhas teorias. E posso confessar que uma das coisas que atiçam a invejazita no meu coração impuro é justamente aquelas donas-de-casa arrumadinhas, que têm a casa bonita, limpa e em ordem! A casa delas cheira a sonasol e a bolinhos para o chá das cinco! E ainda andam giras, com as unhas bem tratadas e bem arranjadas!

Que raio! Como é que conseguem??!!

Uma vez, lamentava-me com uma colega minha, pois sem empregada doméstica e com crianças pequenas, era muito difícil ter tudo em ordem! A minha colega tentou consolar-me, dizendo que estava na mesma situação do que eu, pois também tinha filhos com a idade das minhas e não dispunha de empregada, nem tinha retaguarda familiar... Agora, o que me deixou boquiaberta é que esta minha colega tem uma casa maior do que a minha (e mais gira, rsss), é ela quem encera o soalho, quem lava e passa a roupa, quem trata do jardim (sim, ela tem jardim, rsss) e tem sempre os brinquedinhos arrumados e alinhados... Ainda por cima, fez os rissóis e croquetes para o baptizado da mais nova, todinho organizado por ela e em casa dela! Isto não era de lhe dar duas lamparinas na cara?!! Como é que ela consegue? Ah! E é gira e anda bem arranjada (e tem um carro melhor do que o meu)!

Onde é que estas Brees Van De Kamp vão arranjar tempo, energia, disponibilidade e gosto para isto tudo? Bolas, que chatas!

E a Miranda, a mulher do Júlio Iglesias, que não faz nada na vida, tem uma casa paradisíaca, num sítio paradisíaco, uma enxurrada de filhos e continua gira e elegante? Não é para ter inveja? A única coisa que escapa, e que me faz ter pena dela, é que a Miranda é casada com o Júlio Iglesias! Ih, ih, ih! Pá, Miranda, tu merecias melhor, miúda! Não te deixes abater, ih, ih, ih! Pensa nos teus filhos! E, se ele cantar, põe na cara um ar feliz e nos ouvidos algodão... (Ih, ih, ih!)

sexta-feira, 11 de maio de 2007

O ensino é amador - parte II



Hoje, uma colega minha lembrou também aqueles professores que gastam dinheiro do seu telemóvel ou que telefonam de casa para conversar com os Encarregados de Educação como uma das provas de que há muitos professores com alma missionária...


Isso não faz de nós melhores professores, nem teremos certamente recompensa alguma por tão dócil e solícita abnegação (nunca tivemos...).

Haja dignidade!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O ensino é amador



Uma das causas da falta de qualidade do ensino em Portugal é o seu gritante e inenarrável amadorismo...

Amador é o que ama só por amar, por gosto ou curiosidade; é o que pratica uma actividade por prazer e não pelos benefícios monetários que dela possa usufruir; é ainda o que tem um conhecimento pouco aprofundado sobre um determinado assunto.

Ora, um professor não pode ser um amador ou missionário, trabalhando por carolice ou caridade, por mais que goste da sua actividade profissional; não pode ter conhecimentos vagos e pouco trabalhados sobre a área científica que lecciona.

Um professor não pode ir vestido como se fosse um dos seus adolescentes, com eles confundindo-se e anulando a sua autoridade pedagógica e superioridade hierárquica. Não nos admiremos que a sociedade nos trate mal e abaixo do cão, se vamos vestidos (vestidas) com transparências provocadoras, com tops que desvendam sem pudor tatuagens e piercings e calças que destapam lingerie indiscreta; se levamos sapatilhas e casacos presos à cintura, como se o nosso destino fosse um piquenique e não a sala de aula!

Chamem-me bota-de-elástico, vá lá, chamem! Mas o respeito que exigimos dos outros tem a ver com a imagem que queremos passar e que ninguém me venha com a história de que o que conta é o que valemos e não as aparências! Tretas! Tretas com camada dupla de ingenuidade saloia! Quem me conhece, sabe que não sou fashion victim, mas não é preciso usar alta costura para ter uma imagem esmerada e adequada ao nosso meio profissional (nem o nosso vencimento nos permitiria isso).

Há outra questão, gravíssima e que muitos desconhecem: se queremos ser profissionais, temos de ter meios e condições para trabalhar - que eu saiba, ter de usar o MEU computador, a MINHA impressora, o MEU tinteiro, o MEU papel, as MINHAS canetas... para poder exercer a minha actividade é qualquer coisa de anedótico! Não há professor que não se reveja nas minhas palavras, todos sabem o que é ter de usar uma caneta vermelha paga com o seu dinheiro para corrigir testes, todos sabem... Há dias, pedi na reprografia da minha escola para me imprimirem uma transparência - tive de pagá-la! Entendem? Tive de pagar um material que é para os meus alunos e não para mim! Dá vontade de não fazer nada, não dá? Isto é ou não é amadorismo?!

Para finalizar, lembro que só há relativamente poucos anos é que se começou a exigir aos professores a realização de uma profissionalização, que geralmente envolve uma formação na área da pedagogia e psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, nas metodologias e didácticas, assim como a realização de um estágio. Tenho 13 anos de tempo de serviço e, no primeiro ano em que concorri - estava no 4.º ano do curso - fiquei colocada numa escola secundário com tumas de 12.º ano!!!!!! Não tinha experiência nenhuma, nem o curso completo e atribuíram-me turmas de 12.º ano! Isto é tão amador! Na altura, não se exigia profissionalização! Foi só há 13 anos atrás...

Estes são alguns dos pontos que justificam a minha afirmação inicial e que contribuem para o descalabro em que a nossa Educação anda.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Polpa de tomate



A minha rica Tagarelinha mais nova fez-me hoje passar por uma vergonha imensa, no supermercado lá da minha zona - sentada no seu carrinho de bebé, discreta e silenciosamente, pegou numa garrafa de polpa de tomate e atirou-a ao chão,

Depois, disse: "Taiu!"

(O pai trata-a por Mulher Elástica, porque as mãos dela agarram tudo, com gestos manhosos, rápidos e flexíveis.)

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Avó Isabel

Se a minha avó fosse viva, faria hoje 90 anos.

A sua alegria fresca e matinal permanece viva nas musicais gargalhadas de cada uma das minhas filhas.

Parabéns, avó!