terça-feira, 10 de julho de 2007
Os irmãos - parte 1
Não tenho irmãs. Só um irmão mais velho dez anos, amigo e protector, mas naturalmente diferente e distante.
Aos 18 foi estudar para outro lado e eu fiquei sozinha com a minha mãe.
Sou assim um misto de filha única com irmão-paizinho, a princesa a quem se fazem todas as vontades.
E sempre detestei isso.
Daí que, em criança, sempre sentisse uma secretíssima inveja de todos os que tinham irmãos próximos, companheiros de casa, de quarto, de escola, de brincadeiras e risinhos, de conflitos e amuos, de modas e desejos.
Eram deliciosos os relatos que a minha mãe fazia de todas as aventuras vividas com o irmão, que veio dois anos depois dela. Sei de cor alguns episódios, como aquele em que ela fez a barba ao mano com um pauzinho. Arranhou-lhe a cara toda, "eu era pequenina, mas ele ainda era mais, coitadinho, ficou todo magoadinho..."
É por isso que eu, na minha distante e solitária infância, sonhava em ter muitos filhos e todos seguidinhos. E queria que todos dormissem no mesmo quarto, para se agarrarem uns aos outros, quando viesse o medo da noite e do silêncio...
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