quinta-feira, 10 de maio de 2007

O ensino é amador



Uma das causas da falta de qualidade do ensino em Portugal é o seu gritante e inenarrável amadorismo...

Amador é o que ama só por amar, por gosto ou curiosidade; é o que pratica uma actividade por prazer e não pelos benefícios monetários que dela possa usufruir; é ainda o que tem um conhecimento pouco aprofundado sobre um determinado assunto.

Ora, um professor não pode ser um amador ou missionário, trabalhando por carolice ou caridade, por mais que goste da sua actividade profissional; não pode ter conhecimentos vagos e pouco trabalhados sobre a área científica que lecciona.

Um professor não pode ir vestido como se fosse um dos seus adolescentes, com eles confundindo-se e anulando a sua autoridade pedagógica e superioridade hierárquica. Não nos admiremos que a sociedade nos trate mal e abaixo do cão, se vamos vestidos (vestidas) com transparências provocadoras, com tops que desvendam sem pudor tatuagens e piercings e calças que destapam lingerie indiscreta; se levamos sapatilhas e casacos presos à cintura, como se o nosso destino fosse um piquenique e não a sala de aula!

Chamem-me bota-de-elástico, vá lá, chamem! Mas o respeito que exigimos dos outros tem a ver com a imagem que queremos passar e que ninguém me venha com a história de que o que conta é o que valemos e não as aparências! Tretas! Tretas com camada dupla de ingenuidade saloia! Quem me conhece, sabe que não sou fashion victim, mas não é preciso usar alta costura para ter uma imagem esmerada e adequada ao nosso meio profissional (nem o nosso vencimento nos permitiria isso).

Há outra questão, gravíssima e que muitos desconhecem: se queremos ser profissionais, temos de ter meios e condições para trabalhar - que eu saiba, ter de usar o MEU computador, a MINHA impressora, o MEU tinteiro, o MEU papel, as MINHAS canetas... para poder exercer a minha actividade é qualquer coisa de anedótico! Não há professor que não se reveja nas minhas palavras, todos sabem o que é ter de usar uma caneta vermelha paga com o seu dinheiro para corrigir testes, todos sabem... Há dias, pedi na reprografia da minha escola para me imprimirem uma transparência - tive de pagá-la! Entendem? Tive de pagar um material que é para os meus alunos e não para mim! Dá vontade de não fazer nada, não dá? Isto é ou não é amadorismo?!

Para finalizar, lembro que só há relativamente poucos anos é que se começou a exigir aos professores a realização de uma profissionalização, que geralmente envolve uma formação na área da pedagogia e psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, nas metodologias e didácticas, assim como a realização de um estágio. Tenho 13 anos de tempo de serviço e, no primeiro ano em que concorri - estava no 4.º ano do curso - fiquei colocada numa escola secundário com tumas de 12.º ano!!!!!! Não tinha experiência nenhuma, nem o curso completo e atribuíram-me turmas de 12.º ano! Isto é tão amador! Na altura, não se exigia profissionalização! Foi só há 13 anos atrás...

Estes são alguns dos pontos que justificam a minha afirmação inicial e que contribuem para o descalabro em que a nossa Educação anda.

1 comentário:

José Carrancudo disse...

A nosso ver, os principais problemas são outros.

O País está em crise educativa generalizada, resultado das políticas governamentais dos últimos 20 anos, que empreenderam experiências pedagógicas malparadas na nossa Escola. Com efeito, 80% dos nossos alunos abandonam a Escola ou recebem notas negativas nos Exames Nacionais de Português e Matemática. Disto, os culpados são os educadores oficiosos que promoveram políticas educativas desastrosas, e não os alunos e professores. Os problemas da Educação não se prendem com os conteúdos programáticos ou com o desempenho dos professores, mas sim com as bases metódicas cientificamente inválidas.

Ora, devemos olhar para o nosso Ensino na sua íntegra, e não apenas para assuntos pontuais, para podermos perceber o que se passa. Os problemas começam logo no ensino primário, e é por ai que devemos começar a reconstruir a nossa Escola. Recomendamos vivamente a nossa análise, que identifica as principais razões da crise educativa e indica o caminho de saída. Em poucas palavras, é necessário fazer duas coisas: repor o método fonético no ensino de leitura e repor os exercícios de desenvolvimento da memória nos currículos de todas as disciplinas escolares. Resolvidos os problemas metódicos, muitos dos outros, com o tempo, desaparecerão. No seu estado corrente, o Ensino apenas reproduz a Ignorância, numa escala alargada.

Devemos todos exigir uma acção urgente e empenhada do Governo, para salvar o pouco que ainda pode ser salvo.

Sr.(a) Leitor(a), p.f. mande uma cópia ao M.E.
email: gme@me.gov.pt, se.adj-educacao@me.gov.pt, se.educacao@me.gov.pt