domingo, 15 de julho de 2007
No Rivoli
As lotações esgotam-se sucessivamente. Os aplausos, no fim, são emocionados e vigorosos, obrigam o elenco a agradecer repetidamente em cena aberta. Vêm pessoas de todo o país e até da Galiza.
Eu também fui e iria mais uma vez. Ao Rivoli, ver o último musical de Felipe La Féria, "Jesus Cristo Superstar".
A adaptação está muito bem feita, a encenação deixa transparecer o talento inato de la Féria de criar arte em palco, os actores-cantores têm vozes belíssimas e representações plenas de força e dramatismo. David Robinson, que é detentor dos direitos de Jesus Cristo Superstar, já expressou a La Féria o desejo de apresentar este musical ao público inglês...
Imperdível!
terça-feira, 10 de julho de 2007
Os irmãos - parte 2
A cena é de uma ternura imensa e já se repetiu uma ou outra vez.
As duas tagarelinhas vão atrás no carro, cada uma na sua cadeira. A mais novinha tem uma das suas birras tempestuosas e ensurdecedoras. Dou-lhe a tata, atira com a tata ao chão; dou-lhe um brinquedo, atira com o brinquedo ao chão; dou-lhe uma bolacha maria, atira com a bolacha maria ao chão - nada a acalma.
De repente, peço à mais velha, ausente no meio de tanta confusão: "Dás a mão à mana?" E ela dá. Os gritos inconsoláveis acabam subitamente. Olho para trás e vejo duas princesinhas que se olham com uma cumplicidade carinhosa - a mais velha, protectora e orgulhosa; a mais nova, de olhos inchados e lágrimas teimosas, confortada e sorridente. Vão as duas de mão dada durante toda a silenciosa viagem.
(Som de baba de mãe a escorrer no teclado).
Os irmãos - parte 1
Não tenho irmãs. Só um irmão mais velho dez anos, amigo e protector, mas naturalmente diferente e distante.
Aos 18 foi estudar para outro lado e eu fiquei sozinha com a minha mãe.
Sou assim um misto de filha única com irmão-paizinho, a princesa a quem se fazem todas as vontades.
E sempre detestei isso.
Daí que, em criança, sempre sentisse uma secretíssima inveja de todos os que tinham irmãos próximos, companheiros de casa, de quarto, de escola, de brincadeiras e risinhos, de conflitos e amuos, de modas e desejos.
Eram deliciosos os relatos que a minha mãe fazia de todas as aventuras vividas com o irmão, que veio dois anos depois dela. Sei de cor alguns episódios, como aquele em que ela fez a barba ao mano com um pauzinho. Arranhou-lhe a cara toda, "eu era pequenina, mas ele ainda era mais, coitadinho, ficou todo magoadinho..."
É por isso que eu, na minha distante e solitária infância, sonhava em ter muitos filhos e todos seguidinhos. E queria que todos dormissem no mesmo quarto, para se agarrarem uns aos outros, quando viesse o medo da noite e do silêncio...
Smarties
Agora é a caçulinha que ficou com varicela...
Neste fim-de-semana, teve uma temperatura baixa, que é um dos indícios desta doença. Dado que, nessa altura, tinham já decorrido os quinze dias habituais de incubação, após o contacto com a mana (ler aqui), não nos admirámos quando vimos, na segunda de manhã, a borbulhita denunciadora junto ao biribigo...
Agora, é a vez dela de andar estrelada, com atarax-zovirax-bétadine à mistura.
Isto de se ser o mais novo e de ter uma irmã no infantário é assim...
quarta-feira, 4 de julho de 2007
Na capital do Norte
Conheci-o na escola em que estagiei. Era de Português e ensinava já há muitos anos. Não me recordo do nome, mas lembro-me de que era conhecido por Mandioca.
Um dia, virou-se para um aluno insurrecto, daqueles desaustinados que nos fazem fervilhar o sangue no cerebelo, e grunhiu assustadoramente: "Meu cab*** de m**da! Dou-te um pontapé no céu da boca que te ponho a cuspir brilhantina!!!". (O aluno encolheu-se até desaparecer).
Na Invicta é assim que se fala.
terça-feira, 3 de julho de 2007
A todos os meus colegas
Neste ano lectivo, tive uma colega de quem gostei muito.
Andava duas horas na estrada casa-trabalho, era mãe de três crianças pequenas, atacava as tarefas domésticas e familiares com garra e descontração, era simples e nada pretensiosa, dócil e divertida.
Quis o destino que a plurianualidade do concurso terminasse ao fim de um ano para esta minha colega. Contigências da vida escolar, perdeu o horário que foi direitinho para outra professora saída do Executivo...
Agora, acho que nunca mais a irei ver. A ela e a dezenas de colegas que perdi neste carrossel de colocações ao longo da minha vida profissional... Às vezes, lembro-me deste ou daquele, uns eram brincalhões e coloridos, outros intimistas e sensíveis, outros ainda excêntricos e pedagogicamente "diferentes". De todos eles, de todos de quem gostei, tenho saudades e sinto-lhes a falta.
Pudesse eu ser rica que construiria uma escola e aos meus colegas preferidos daria colocação!...
À Rita, a todos eles e a todos os que virão, dedico este poema doce e cristalino de Eugénio de Andrade:
OS AMIGOS
Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria -
por mais amarga.
Até sempre!
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