quarta-feira, 16 de maio de 2007

O veneno verde e ácido da inveja



"Inveja" (detalhe da "Mesa dos pecados capitais" - H. Bosch)


É sempre engraçado e ternurento ouvir algumas pessoas a afirmarem: "não gosto nada de pessoas invejosas", "nunca fui invejoso/a", "detesto a inveja"...

É giro, porque a inveja faz parte da raça humana, como o au-au faz parte dos cães ou o miau dos gatos... Não há volta a dar! Todos nós já sentimos inveja, uma vez que seja na vida! Quem nunca invejou quem tem mais dinheiro e bens materiais do que nós, mais talento, mais fama, mais sorte?... Ou outra coisa qualquer.

A inveja que sentimos, se não for aceite como coisa nossa, destrói o fígado, corrói a vesícula, deixa um sabor a ressentimento na boca. Mas, se a acolhermos e a soubermos aceitar, empurra-nos e faz-nos evoluir, seja para lutar e atingir o que o outro tem, seja para nos ensinar a aceitar o que nunca poderemos ter.

A minha mãe costumava ir a um sapateiro, o Sr. Manuel. Sobre a bancada de trabalho, havia um dístico, num azulejo colorido e já partido, que sempre me deliciou: "Se tens inveja de mim,/Faz como eu: trabalha!". Que é como quem diz, esforça-te; organiza a tua vida de outra maneira; gere o teu tempo; não fiques a babar-te na cama e mexe-te; não te lamentes e anda para a frente; procura a tua sorte!...

Como eu não sou perfeita - e grande amiga do Frei Tomás -, nem sempre ponho em prática as minhas teorias. E posso confessar que uma das coisas que atiçam a invejazita no meu coração impuro é justamente aquelas donas-de-casa arrumadinhas, que têm a casa bonita, limpa e em ordem! A casa delas cheira a sonasol e a bolinhos para o chá das cinco! E ainda andam giras, com as unhas bem tratadas e bem arranjadas!

Que raio! Como é que conseguem??!!

Uma vez, lamentava-me com uma colega minha, pois sem empregada doméstica e com crianças pequenas, era muito difícil ter tudo em ordem! A minha colega tentou consolar-me, dizendo que estava na mesma situação do que eu, pois também tinha filhos com a idade das minhas e não dispunha de empregada, nem tinha retaguarda familiar... Agora, o que me deixou boquiaberta é que esta minha colega tem uma casa maior do que a minha (e mais gira, rsss), é ela quem encera o soalho, quem lava e passa a roupa, quem trata do jardim (sim, ela tem jardim, rsss) e tem sempre os brinquedinhos arrumados e alinhados... Ainda por cima, fez os rissóis e croquetes para o baptizado da mais nova, todinho organizado por ela e em casa dela! Isto não era de lhe dar duas lamparinas na cara?!! Como é que ela consegue? Ah! E é gira e anda bem arranjada (e tem um carro melhor do que o meu)!

Onde é que estas Brees Van De Kamp vão arranjar tempo, energia, disponibilidade e gosto para isto tudo? Bolas, que chatas!

E a Miranda, a mulher do Júlio Iglesias, que não faz nada na vida, tem uma casa paradisíaca, num sítio paradisíaco, uma enxurrada de filhos e continua gira e elegante? Não é para ter inveja? A única coisa que escapa, e que me faz ter pena dela, é que a Miranda é casada com o Júlio Iglesias! Ih, ih, ih! Pá, Miranda, tu merecias melhor, miúda! Não te deixes abater, ih, ih, ih! Pensa nos teus filhos! E, se ele cantar, põe na cara um ar feliz e nos ouvidos algodão... (Ih, ih, ih!)

3 comentários:

Alda Serras disse...

A Lynette, num dos episódios, ficou viciada nos comprimidos para a hiperactividade (ou qualquer coisa assim) e tornou-se super-eficiente.
Será esse o segredo? eheheh Ou isso, ou os dez anõezinhos da tia Verde-Água!

Tagarela disse...

Pois foi, eu lembro-me... E, se bem me recordo, a desgraçada até foi trabalhar para descansar do inferno doméstico. Já pedi à minha médica de família uns preparados de cocaína e ecstasy. Ela sorriu e deu-me o Magnesona, que nunca me fez grande efeito. Quanto aos dez anõezinhos, não sei o que se passa, mas comigo esforçam-se muito pouquinho. Acho que lhes vou dar o Magnesona a eles! :-)

Alda Serras disse...

Dedinhos eléctricos! ihih